28/10/2009

Reencontros e tacones en Alfama


Nada mais auspicioso. Noite quente de Outono, a primeira saída em 6 meses... e o reencontro com amigos lá longe. “É hoje que calço os meus sapatos todos giros, fivelita fina, salto alto! Ah, e aquele-vestido-preto-nunca-me-comprometo. Aqui vou eu, braço dado na companhia perfeita e muita ansiedade: vou reencontrar velhos amigos!”. Confiante saio para a rua, pela estrada fora nada de tão novo assim, “ok, os tacones são lejanos, mas eu aguento…” (digo eu que aguento porque ainda não tenho na planta do pé, nos gémeos, no peito do pé, no conjunto, o “peso” de 9+5 meses sem praticamente usar saltos). No carro vou maravilhosamente bem (apenas sinto uns joelhos um pouco mais colados ao queixo!). A primeira paragem é importante, vamos buscar os nossos amigos de longe, aqueles que vamos rever hoje, depois de quase 20 anos, Cristo! Depois do primeiro impacto, meio a medo, meio a querer gritar “saudades…!", é hora de pôr tudo em dia. De novo no carro, os meus pés lá vão, contentes da vida, “assim vai ser canja, sempre sentadinha, pezinhos no relax…". Avançamos por Lisboa, Santo António de Alfama espera-nos com entradinhas-maravilha. Carro estacionado, saímos de novo para a rua, “que bela noite, que calor…” – os pés lá se aguentam, bem firmes. “Talvez seja já ali…” – começo eu a ponderar. “Ora Alfama, Alfama… se bem me lembro, é um bairro assim, digamos, a subir… certo… certo?! Pois. Então… porquê querer provocar a sorte recorrendo a saltos passados largos meses de rasos, rasinhos? Hum? Saltos?! Saltos?! Tens cada ideia! Não te podias ter ficado apenas pelo vestido-preto-com-o-qual-nunca-me-comprometo? Oh, mulher… manias. Vá, concentra-te, estamos quase a chegar, não percas de vista a melhor companhia! Esplanada, Interior do restaurante, escadas…! Aguentem pés, a seguir estarão umas horitas em descanso. Uf, beijos dados e já estamos todos sentadinhos, thanks God. “Assim vale a pena vir de tacones!”. O gelo do reencontro com os nossos amigos quebra-se em... 2 segundos e passados 15 minutos já somos de novo muitos, discernimento a mais, discernimento a menos. As grandes lembranças passeiam-se pela mesa entre as entradinhas, os copos e os sorrisos. Há documentos que passam de mãos e comprovam a nossa rebeldia de então. Agora já só pensamos como será com os nossos filhos, daqui a nada…! Em quatro horas fazemos “aquele flash”, tanta coisa para dizer. Dos pés… nem sinal. E continuamos, com os fados vadios a percorrerem as ruelas de Alfama, e nós completamente absorvidos pelas vozes uns dos outros. Depois do quente dos inevitáveis cafés, olhamo-nos e já custa reconhecer a despedida. A mim, para além disso, esperam-me lá fora umas boas descidas, escadas incluídas e umas pedras lisinhas a pedirem queda. Caminhamos, devagar (eu por razões óbvias) e todos, se calhar, a pensar em querer ficar, só mais um bocadinho. O que há de diferente, e só isso, é um mundo de gente que espera por nós ainda hoje, e amanhã, esse novo mundo que não pára, haja tacones lejanos, sapatos rasos ou chinelos.
Oxalá chova amanhã, ou outro dia, mas que a chuva sempre deixe este sabor a lembranças, mesmo com pezinhos de molho, no dia seguinte.

1 comentário:

  1. Agora conto eu a minha versão:
    A primeira noite que o nosso lindo filho vai ficar sem os pais. Fica em boas mãos, tenho a certeza. Obrigado Patrícia!
    Jantar em Alfama com uma noite bastante agradável, parece-me bem.
    Alfama a cima, por ruelas estreitas, terminando num beco. Não conhecia o restaurante, surpreendeu-me pela positiva. A conversa foi toda contada no passado. Engraçada mas fiquei mais velho 5 anos. Deu para relembrar pessoas que já se tinham apagado da minha cabeça. Enfim...
    Lá fomos nós Alfama a baixo.
    Fomos para casa a 120km/h cheio de saudades do filhote. Correu tudo bem!
    Oxalá amanhã faça sol! Nem que seja até ao verão de S. Martinho.

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